quarta-feira, julho 12, 2006

29) A onda do politicamente correto começa a fazer vítimas...

Desejo expressar minha solidariedade ao professor Paulo Kramer, do Departamento de Ciência Política da UnN, a quem conheço pessoalmente e com quem me divirto cada vez que o ouço falar, pelo seu jeito irreverente e franco de se expressar.
Como sou exigente, sei que por trás de cada expressão desabusada que ele usa, há uma análise rigorosa da situação, apenas que manifestada de formas por vezes irônica, ou divertida, apenas para retirar esse tom professoral que costumamos manter em nossas aulas. Ele sempre diz a verdade, embora de maneiras diferente, com expressões que também divertem, pelo tom diferente que atribui a certos conceitos.
Parece que isso é pecado, atualmente, como vocês podem constatar pela matéria abaixo do jornal Correio Braziliense, desta quarta-feira 12 de julho de 2006.

Professor da UnB é acusado de racismo por alunos de pós-graduação
Érica Montenegro
Correio Braziliense, 12/07/2006

07h36-“Não adianta dar dinheiro para essa crioulada.” A frase — pronunciada por Paulo Kramer, 49 anos, professor-adjunto do Instituto de Ciência Política, da Universidade de Brasília (UnB) — levou um grupo de alunos a formalizar queixa contra o professor na reitoria. É a primeira vez que isso ocorre nos 44 anos da UnB. Relatada pelos estudantes em carta entregue ao reitor Timothy Mulholland, e confirmada pelo próprio Kramer, a frase foi dita na manhã de 24 de abril, uma segunda-feira, durante a aula de Teoria Política Moderna (TPM), do programa de pós-graduação em ciência política.
Kramer explicava políticas assistenciais implementadas nos Estados Unidos, na década de 60, para a população negra, quando emitiu a opinião. “Estava dizendo que, antes de se macaquear uma política pública de outro país, é necessário saber quais os efeitos que ela trouxe para os supostamente beneficiados”, afirma. “Crioulada” foi o termo mais próximo que o professor diz ter encontrado para traduzir “black under class” — expressão pela qual os negros muito pobres são descritos por parte dos sociólogos nos EUA.
Mas o termo atingiu, em particular, o aluno Gustavo Amora, 24 anos, que tem a pele morena e se reconhece como negro. Gustavo, que foi aluno de Kramer também na graduação, decidiu enviar um e-mail queixando-se ao professor. No texto dizia: “Todos nós conhecemos o seu jeito brincalhão, algo que na maioria das vezes nos diverte dentro de sala. Mas acredito que haja limites para esta interação (…), a linguagem é uma dialética frágil e os dois pólos devem se respeitar para que não se perca esta dinâmica.” Kramer desculpou-se amistosamente, e o assunto prometia encerrar-se ali.
Mas, na aula seguinte, o professor fez uma explanação sobre a “onda politicamente correta”, que irritou Gustavo e alguns mestrandos da turma. “Ele desrespeitou nossas posições e julgamos por bem levar o caso ao conhecimento da direção do instituto”, afirma o estudante Carlos Augusto Machado, 24. Kramer avalia que, em sua condição de professor, chamava a turma à reflexão. “Eu sinceramente tenho medo que essa avaliação sobre o que é preconceito ou o que não é acabe prejudicando a liberdade de expressão, direito individual dos mais importantes”, comenta Kramer, que leciona na UnB há 19 anos.
A questão ganhou corpo nos corredores do Instituto de Ciências Política e acirrou o clima entre alunos e professor. Em carta enviada à Comissão de Pós-Graduação no mês passado, sete estudantes dos cerca de 20 que fazem parte da turma de TPM pediram o afastamento de Kramer ou a abertura de uma nova turma.

Tensão
O confronto atingiu o clímax na aula da semana passada: o professor chamou Gustavo Amora de “racista negro” e de “Ku-Klux-Klan negra”.
Criada em 1865 e até hoje em ação, a Ku-Klux-Klan chegou a queimar negros vivos nos EUA. “O professor estava completamente descontrolado e, como a direção do departamento não havia nos dado respostas satisfatórias, decidimos recorrer à reitoria”, completa a também aluna Danusa Marques, 23.
Paulo Kramer não nega a acusação, mas considera que o grupo de alunos havia passado dos limites. “Eles criaram uma espécie de motim, sem sequer ter o respaldo da turma inteira. Então, eu abri a questão para todos”, conclui.
Depois de receber os estudantes na última segunda-feira, o reitor Timothy Mulholland encaminhou o caso ao departamento jurídico da UnB, que decidirá como resolver a questão. Se houver um inquérito administrativo e o professor for considerado culpado, pode receber punições que vão da advertência verbal à expulsão do cargo. “É um assunto muito sério, precisa ser avaliado com o máximo de cuidado”, resigna-se o reitor. Não há prazo para o departamento jurídico se pronunciar."

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