sábado, abril 15, 2006

14) Inflação e desemprego: fim dos mitos?

Transcrevo abaixo artigo do economista Rodrigo Constantino, formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC.

FALSA DICOTOMIA

Muito se fala sobre um necessário trade-off entre inflação e desemprego. Uma das curvas mais famosas em economia é a de Phillips, que trata justamente desta relação: menos desemprego, mais inflação. Alban Phillips realizou um estudo empírico em 1958, cujos resultados logo foram abraçados pelos neo-keynesianos, felizes em argumentar que o governo poderia então controlar o nível de emprego com suas políticas. A princípio, Phillips tratava da relação entre aumento de salários e desemprego, mas as conclusões foram extrapoladas para a inflação e o desemprego. Esta mentalidade perdura até hoje, quando muitos economistas apresentam esta suposta dicotomia, exigindo uma escolha entre menos desemprego ou menos inflação. Mas será que tal relação é realmente válida?

Na década de 70, muitos países experimentaram uma estagflação, mistura de elevada inflação com elevado desemprego. Isso colocou a curva de Phillips em xeque. O nobel de Chicago, Milton Friedman, foi um dos que melhor explicou o fenômeno, lembrando que a inflação é basicamente um problema monetário, de excesso de circulação de moeda. Ele chamou a curva Phillips de uma ilusão. A escola austríaca também demonstrou, com sólido embasamento, que o desemprego era fruto de restrições criadas pelo próprio governo, não permitindo o livre funcionamento do mercado de trabalho. Murray Rothbard chegou a afirmar que a relação proposta pela curva Phillips era inversa, na verdade. Mas os adeptos de Keynes não desistiriam facilmente.

A curva foi adaptada, e o conceito de NAIRU (non-acelerating inflation rate of unemployment) foi criado, dando a entender que a partir de um certo nível de desemprego é que a inflação seria detonada. Tamanha é a influência do NAIRU que até mesmo o Fed, banco central americano, utiliza bastante seu conceito. Entretanto, a crença nesta teoria seria duramente abalada com os dados americanos, com cada vez menos desemprego sem correspondente aceleração da inflação. Para muitos, o nível do NAIRU seria em torno de 5,5% de desemprego. A taxa atual já está em 4,7% e nada da inflação explodir. Muitos economistas, perplexos, buscam novas explicações para o acontecimento “bizarro”.

Não pretendo me alongar no debate teórico sobre a relação entre inflação e desemprego. O tema é polêmico e há muita controvérsia ainda. Mas considero útil trazer o debate à tona, assim como dados empíricos recentes, já que não são poucos os economistas que condenam as rígidas metas de inflação no Brasil, como se um pouco mais de inflação fosse desejável para reduzirmos o desemprego. Erram o alvo. Os “desenvolvimentistas” são os principais proponentes desta dicotomia, a qual considero falsa. Podemos crescer de forma acelerada, reduzindo drasticamente o desemprego, sem que a inflação incomode. Afrouxar as metas de inflação não é o caminho. Reduzir os gastos públicos, aprovar reformas estruturais, atacar a burocracia e abrir mais o nosso comércio sim. Vários países seguiram esta trajetória e colheram os frutos, crescendo aceleradamente, sem inflação. Enquanto isso, outros mantiveram as armadilhas criadas pelo excesso de Estado e buscaram um crescimento calcado na maior tolerância com a inflação. O resultado foi infinitamente pior. Em alguns casos, catastrófico até.

Levantei dados de 40 países desde 1995 até 2004, usando a The Economist como fonte. A taxa média de desemprego no mundo neste período foi de 6,9%. A inflação média nos últimos 5 anos ficou em 3,8%. Não há praticamente correlação alguma entre a taxa média de desemprego e a inflação no período analisado. O Brasil apresentou desemprego médio de 8,3% para uma inflação de 8,7% desde 1999. Vários países tiveram taxas de desemprego menores, com inflação também menor. O Chile, nosso vizinho mais responsável, mostrou taxa média de desemprego de 7% para inflação média de apenas 2,7%. Tanto Inglaterra como Estados Unidos tiveram taxa de desemprego média de 6,2% enquanto a inflação permaneceu dentro do controle, perto de 2,5% ao ano. A Nova Zelândia, que realizou reformas liberais e reduziu o déficit público, apresentou desemprego de 6,1% durante o período, com inflação de apenas 2,4% ao ano. Tanto Taiwan como Cingapura praticamente não possuem desemprego, com taxas abaixo de 4%, ao mesmo tempo que a inflação média não chega a 1% por ano. Por outro lado, a Venezuela viveu com inflação bem maior, acima de 20% anual. Nem por isso foi capaz de levar sua taxa de desemprego média para baixo de 12%. Argentina e Rússia são outros casos de maior inflação com mais desemprego também.

Os exemplos são inúmeros. A relação entre a inflação e o desemprego é mais complexa do que parece. A curva de Phillips está longe de ser uma verdade irrefutável. Mais parece um mito. O NAIRU ainda necessita de mais fé que qualquer coisa para ser aceito. Os argumentos dos monetaristas balançam certas teorias convencionais. As teorias austríacas praticamente sepultam de vez as crenças dos keynesianos. E os dados empíricos recentes corroboram com a visão de que a dicotomia apresentada entre inflação e desemprego mais parece, na verdade, uma falsa dicotomia.

Rodrigo Constantino, economista
http://rodrigoconstantino.blogspot.com
Publicado em 13/04/2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Ficar desempregado e mesmo duro ! Indico este site para ajudar a galera que esta desempregada: Empregos, Estágios & Concursos

Abraços.